O mundo está investindo trilhões de dólares em tecnologias de ponta, como energias renováveis, fortalecimento do setor de saúde, infraestrutura, inovação, mão de obra e indústria de defesa. O Brasil deu o primeiro passo, mas precisa ir além. A fala de Steve Jobs em 2005, “Continuem famintos, continuem loucos”, é um ícone da cultura da inovação, baseada em paixão e ousadia, além de investimentos em pesquisa e desenvolvimento (P&D). No entanto, a maioria das melhores tecnologias da Apple existe graças aos esforços coletivos e cumulativos conduzidos anteriormente pelo Estado.
A corrida das políticas públicas internacionais está focada em quem chega na frente, para impor seu padrão ao mundo, em energias renováveis, eficiência energética e tecnologias limpas e descarbonizantes; adoção de tecnologias digitais, como inteligência artificial, internet das coisas (IoT) e big data; políticas de fortalecimento do setor de saúde, com foco no desenvolvimento de novas tecnologias, produção de medicamentos e equipamentos médicos e ampliação da cobertura de serviços de saúde; modernização da infraestrutura urbana, incluindo transporte público, saneamento e gestão de resíduos.
A sobrevivência para a economia brasileira depende de uma política industrial robusta e bem orientada. A Confederação Nacional da Indústria (CNI), em conjunto com as 27 federações estaduais de indústria e de 74 associações industriais, divulgou a Declaração pelo Desenvolvimento da Indústria e do Brasil, apresentando os 10 princípios orientadores para impulsionar a agenda de desenvolvimento. Esses princípios são fundamentais para garantir que a nova industrialização do Brasil seja bem-sucedida e traga benefícios duradouros para a sociedade, em emprego, renda e qualidade de vida.
A Nova Indústria Brasil (NIB) é a atual política industrial do país e, dentro dela, o Plano Mais Produção tem R$ 300 bilhões para o financiamento de empresas e de Institutos de Ciência e Tecnologia (ICTs) até 2026, ou cerca de R$ 75 bilhões por ano. Deste total, cerca de R$ 110 bilhões já foram aprovados em linhas do BNDES para projetos de produtividade, exportações, inovação e indústria mais verde.
A discussão sobre política industrial é para colocar o país no século 21, explica a economista Mônica de Bolle. A indústria precisa estar incluída e adaptada para a nova realidade, com metas claras e mecanismos de governança bem montados para evitar o desperdício. A neoindustrialização verde e o poweshoring podem mudar o desenvolvimento do Brasil, com a matriz energética brasileira sendo uma das mais limpas do mundo, contribuindo para que o setor produtivo não seja o principal emissor de CO2 no país.
A reconstrução do Rio Grande do Sul pode ser o ponto de partida para promover a indústria verde, em larga escala, no país. O plano Nova Indústria Brasil pode desempenhar um papel estratégico na urgente reconstrução do estado, incentivando os investimentos voltados à sustentabilidade e transição energética. Isso passa por priorizar, efetivamente, a promoção do desenvolvimento econômico com baixo impacto ambiental e, assim, conduzir o estado do Rio Grande do Sul, e o país, para um futuro mais resiliente e sustentável.
A indústria instalada no país pode e deve contribuir ainda mais para uma produção sustentável, repercutindo positivamente na sua própria produtividade e competitividade, além de favorecer o posicionamento do país no cenário internacional da economia verde. É uma mudança de paradigma na concepção e orientação de nossas políticas, com a priorização dos investimentos para a indústria verde e a revisão do aparato legislativo para que dialogue com o desenvolvimento sustentável e inovador.
A implementação de políticas industriais focadas no desenvolvimento de tecnologias verdes é justificada, pois elas são um bem público global. O Brasil pode beneficiar-se do movimento de poweshoring, atraindo investimentos que buscam energia limpa e segura. A transição do setor industrial brasileiro para uma economia de baixo carbono apresenta desafios, mas é necessário para o futuro do país.
A política industrial é capaz de mudar a economia do Brasil, promovendo o desenvolvimento sustentável e inovador. É preciso ter uma estratégia nacional de descarbonização que priorize iniciativas de transição energética, mercado de carbono, economia circular e conservação florestal. Com planejamento bem estruturado e implementação eficaz, o Brasil pode se tornar um líder na economia verde e sustentável.